TDAH - Existem vantagens evolutivas?
- Rodrigo Baraldo
- 18 de jul. de 2023
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Há décadas é possível testemunhar o debate sobre possíveis vantagens evolutivas do TDAH, uma condição cujas causas carecem de comprovação, mas que, no geral, é compreendida como sendo resultante da combinação de fatores genéticos e ambientais. Existem alguns estudos que mostram que, em alguns grupos nômades, indivíduos com traços sugestivos de TDAH apresentavam melhor perfil nutricional e saúde geral do que indivíduos sem tais traços. Os autores então propuseram que as características de “inteligência fluida” dos indivíduos com traços de TDAH, como a curiosidade e a vigilância, faziam com que ficassem mais sensíveis à presença de invasores e predadores (por exemplo pelos ruídos emitidos) enquanto exploravam outras regiões em busca de recursos. Esse tipo de observação fez com que alguns cientistas interpretassem o TDAH não como uma doença, mas como uma particularidade biológica que possivelmente trouxe alguma vantagem aos nossos antepassados, mas que hoje é algo como “o cérebro de caçador numa sociedade de fazendeiros”, dada a disseminação das escolas, do trabalho formal e das (por vezes rígidas) normas sociais, contexto que pressiona intensamente em direção à adaptação e promove o estresse.
Dessa forma, o TDAH exibe uma faceta evolutiva da mesma forma que outras condições médicas (como a anemia falciforme, que há milênios protege indivíduos da morte pela malária, ou a hemocromatose, que protegeu os antepassados europeus das pestes causadas por bactérias). Ou seja, é mais uma condição que desafia o conceito dicotômico entre saúde e doença, muito embora hoje nem sempre seja possível (ou viável) usufruir de suas características criativas – como quando precisamos estar focados por horas, sob as diretrizes da produtividade e da formalidade, muitas vezes em tarefas pouco estimulantes. Sabe-se, por exemplo, que pessoas com TDAH que não estejam recebendo tratamento tendem a permanecer desempregadas por mais tempo no longo prazo, ou mesmo terem mais dificuldades para manter relacionamentos afetivos duradouros. É nesse panorama geral que o diagnóstico e o tratamento começam a fazer sentido.
Entender o contexto evolutivo do TDAH é importante para minimizar o estigma associado a esta condição, ajudar o paciente no processo do autoconhecimento e na elaboração de uma visão mais positiva sobre sua condição, alinhando as expectativas e necessidades do paciente ao seu contexto social.
Referências:
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