A arte da medicina no diagnóstico e tratamento da doença de Parkinson.
- Rodrigo Baraldo
- 31 de jul. de 2023
- 2 min de leitura
A medicina do século 21, cada vez mais, se caracteriza pela crescente incorporação de exames diagnósticos. Há uma tendência de que os critérios diagnósticos mais atualizados incluam a presença de biomarcadores, exames de imagem e/ou testes genéticos, na tentativa de melhorar a acurácia diagnóstica e reduzir a probabilidade de erros. Um bom exemplo é a atualização nos critérios diagnósticos da doença de Alzheimer proposta na conferência internacional (AAIC) de 2023, que inclui a presença de biomarcadores (no sangue ou líquor) para o estabelecimento diagnóstico, o que tem sido alvo de amplo debate uma vez que estes testes não são acessíveis a todos os pacientes.
Embora exames auxiliem no diagnóstico da doença de Parkinson, como a cintilografia cerebral, o diagnóstico ainda é essencialmente clínico. Nos anos 1800, James Parkinson colocou em linhas um verdadeiro retrato da doença, ressaltando a importância da observação semiológica - com seus componentes tátil e visual - para o diagnóstico. Como numa pintura ou uma escultura, o diagnóstico vem do toque, da observação, do conhecimento e da intuição. O neurologista com experiência em transtornos do movimento é capaz de olhar para o paciente, observar seus gestos, sua marcha, sua expressão facial e saberá, analisando à luz da história clínica, se o diagnóstico da doença de Parkinson é plausível ou se provavelmente se trata de outra condição.
No acompanhamento dos pacientes, a mesma proficiência semiológica se faz necessária. O ajuste nas medicações depende, novamente, da observação e de um bom exame neurológico. A indicação ao tratamento cirúrgico (DBS), por exemplo, segue um protocolo de avaliação clínica: é realizado um exame clínico seguindo uma escala de graduação dos sintomas antes e após a tomada da medicação (teste de levodopa). O ajuste das medicações exige grande conhecimento das medicações, suas interações farmacológicas e criatividade para ajustar os horários com relação à rotina do paciente.
O diagnóstico e o acompanhamento dos pacientes com doença de Parkinson exemplificam a arte da prática da medicina do início ao fim, trazendo uma mistura de desafio e gratificação aos médicos que têm a responsabilidade (e também a satisfação) de poder prover os cuidados.
Referências:
1 - García Ruiz PJ. Prehistoria de la enfermedad de Parkinson. Neurologia (in
Spanish). Dec 2004,19 (10): 735–737. PMID 15568171.
2 - Sveinbjornsdottir S. The clinical symptoms of Parkinson's disease. Journal of
neurochemistry, 139 Suppl 1, 318–324. doi:10.1111/jnc.13691.




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